CO₂ e fungos são as maiores ameaças à qualidade do ar interior


     Só mesmo os refrigeristas sabem as surpresas que cada serviço de manutenção reserva na hora da desmontagem e limpeza de equipamentos residenciais e comerciais – de condensadoras e evaporadoras literalmente entupidas de poeira a centrais de ar condicionado instaladas em locais de grande fluxo de pessoas, tão sujas que comprometem a qualidade do ar interior (QAI).
     Bastante comum, este problema geralmente está assoiado à chamada síndrome do edifício doente, nome dado ao conjunto de sintomas ligados ao tempo passado dentro de uma construção ou sala específicas com ar interno comprometido por excesso de CO₂ e fungos. Pessoas nesta situação geralmente relatam dores de cabeça, irritação nos olhos e no nariz e fadiga.
     Para chancelar este cenário, dados de análises da qualidade do ar interno divulgados pela Conforlab Engenharia Ambiental revelam que parte considerável das 100 mil amostras coletadas extrapolou os limites definidos pela Resolução 09/2003, da Anvisa.
     “O maior problema continua sendo os valores de dióxido de carbono, acima de 1.000 partes por milhão (ppm). Isso se explica devido ao grande número de sistemas de mini-splits instalados em ambientes não residenciais, sem a devida renovação de ar exigida pela legislação brasileira”, explica o diretor da empresa, Leonardo Cozac.
     De acordo com a Anvisa, a qualidade do ar de ambientes atendidos por instalações de ar-condicionado, de uso público e coletivo, com potência superior a 5 TR (60 mil BTU/h) devem ser avaliados semestralmente.
     Isto, naturalmente, inclui estabelecimentos com características epidemiológicas diferenciadas, como serviços médicos, restaurantes, creches e outros, os quais deverão ser amostrados isoladamente.
     Os testes analisam os seguintes parâmetros: contagem e identificação de gêneros fúngicos isolados no ar; aerodispersoides (material particulado em suspensão no ar); concentração de CO₂; temperatura; umidade relativa do ar e velocidade do ar.
     “Os fungos encontrados em ambientes climatizados normalmente são os mesmos achados no ambiente externo, tais como Aspergilus, Cladosporium, Penicilium. Para os condicionadores de ar, vale o mesmo raciocínio. Sem manutenção e limpeza adequados haverá aumento na concentração desses fungos, que podem causar principalmente problemas respiratórios para pessoas mais suscetíveis”, salienta Cozac.
     O executivo lembra que os limites definidos pela Anvisa são de 750 ufc/m³ (em microbiologia, unidade de formação de colônias de fungos) no ambiente interno e o limite de 1,5 da relação do ar interno dividido pelo ar externo. “Ou seja, não pode haver mais de 50% de colônias de fungos dentro do ambiente quando comparado ao ar externo”.
     “Embora os principais hospitais do País tenham investido em ações de melhoria da QAI, ainda há muitos hospitais, públicos e privados, com sistemas de ar condicionado irregulares, como centros cirúrgicos com mini-splits, um verdadeiro crime cometido contra a saúde”, lamenta.
     “Sistemas como esses não têm filtragem, renovação e distribuição de ar necessárias para ambientes críticos, transformando esses locais em ambientes insalubres, principalmente para as pessoas com imunidade baixa”, acrescenta.
     Segundo o especialista, a manutenção preventiva é uma das melhores soluções para controle da QAI. “Processos adequados de limpeza de todos componentes do sistema (bandeja, serpentina, ventiladores, dutos), troca de filtros regulares e a manutenção do sistema funcionando como determina o projeto irão garantir um ambiente saudável e confortável. Esses processos devem ser definidos no Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC), assinado pelo engenheiro mecânico responsável”, comenta.
     O mesmo problema na QAI vem sendo detectado em escolas com ambientes climatizados, a maioria delas com split em situação comprometida, também deixando no ar excesso de CO₂ e de fungos.
     “Mesmo com sistema split, se promoverem a abertura regular das janelas, haverá menos problemas graves, mas muitos locais deixam de realizar uma renovação de ar consistente, conforme prega a Resolução 09/2003”, complementa o engenheiro químico Marcos D’Avila Bensoussan, representante no Brasil da NSF International e membro do Green Building Council Brasil (GBC Brasil), da Ashrae e da International Water Association (IWA).
     A preocupação com a QAI está chegando às chamadas construções “verdes”, geralmente certificadas pela gestão ambiental diferenciada.
     “Eles estão no caminho certo, mas isso não significa que um edifício verde não faça mal à saúde das pessoas, pois no início desse modelo, só havia a preocupação com a construção”, informa.
     “Agora surgem novas certificações preocupadas com a saúde e o bem-estar das pessoas, como o GBC Brasil (certificação para casas e condomínios) e do International Well Building Institute”, revela.

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Até a próxima! 
 Créditos: Blog do frio

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