Novo acordo para reduzir gases de efeito estufa deve sair este ano

Os gases que usamos para nos refrescar estão entre as maiores ameaças para o clima do planeta. Conhecidos como hidrofluorocarbonos, ou HFCs, eles são encontrados em aparelhos dar condicionado, geladeiras e aerossóis, e são muito mais poderosos para o aquecimento planetário que o dióxido de carbono. O HFC mais abundante e em mais rápido crescimento, o HFC-134a, permanece na atmosfera por apenas 13,4 anos, mas nesse período causa 1.300 vezes o aquecimento que o dióxido de carbono provoca ao longo de 100 anos. Só que desde 1990, o uso de HFCs aumentou 258%. No atual ritmo, em 2050 eles poderão contribuir com até 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Por isso, líderes de todo o planeta estão empenhados em chegar a um acordo ainda neste ano para reduzi-los progressivamente. A expectativa é que firmar este compromisso ainda em outubro deste ano, durante reunião a ser realizada em Ruanda. Se isso acontecer, será o maior avanço contra as mudanças climáticas desde a assinatura do Acordo de Paris: um cronograma ambicioso de redução dos HFCs poderia reduzir o aquecimento global em 0,5°C até o final do século em relação ao cenário tendencial. Pode parecer pouco, mas equivale à metade do aquecimento que já provocamos desde o início da era industrial até os dias de hoje – e que está por trás da maior frequência de eventos climáticos extremos, como tempestades e secas, com graves consequências para a produção de alimentos, bem como para a elevação do nível dos mares e a maior incidência de doenças transmitidas por mosquitos.
Os HFCs se tornaram comuns porque vieram para substituir outra classe de gases refrigerantes, os clorofluorocarbonos. O acordo para banir os chamados CFCs – o Protocolo de Montréal – foi fechado em 1987, mas o foco exclusivo em interromper a destruição da camada de ozônio, que protege a Terra da radiação ultravioleta do Sol, não permitiu avaliar outros potenciais impactos – sobre o efeito estufa, por exemplo.
Já existem alternativas para HFCs, como o propano, que pode ser usado em pequenos aparelhos de ar condicionado gerando uma fração do impacto ambiental dos HFCs, e a amônia, que não causa efeito de estufa. A segurança regulamentar de um novo acordo – na verdade, uma emenda ao Protocolo de Montréal – é fundamental para que a indústria faça a migração, a qual pode beneficiar as empresas com a venda de novos produtos. Como muitos deles são também muito mais eficientes em termos energéticos, o impacto dessa mudança vai além da interrupção dos danos dos HFCs.
As negociações, que já duram sete anos, agora estão abordando a linha de base, ou seja, o nível de uso sobre o qual as medidas de contenção serão baseadas, e o cronograma da descontinuidade dos HFCs. Quase 100 países desenvolvidos e em desenvolvimento querem o congelamento dos HFCs em 2021, já que interromper o rápido crescimento dos HFCs é critico para proteger o clima. A Índia defende uma proposta mais conservadora, que posterga essa data em 10 anos. A China propôs um calendário mais agressivo, mas não tanto como a meta de 2021.
Outro ponto em debate é o custo da transição. O custo total para eliminar os HFCs é estimado entre US$ 8 bilhões e US $ 10 bilhões nas próximas três décadas – algo como 8 ou 10 centavos de dólar por tonelada de dióxido de carbono equivalente. O Protocolo de Montréal prevê um fundo para ajudar os países em desenvolvimento a gradualmente descontinuarem sua utilização de poluentes atmosféricos. Grande parte ou todo o dinheiro deve vir de nações desenvolvidas, como Estados Unidos, Canadá, Japão e os membros da União Europeia.
Entre agora e a reunião de Kigali, Ruanda, os países vão trabalhar em encontros e em conversas bilaterais para transpor os obstáculos sobre datas de descontinuação dos HFCs e o financiamento desse processo. Mas as expectativas de sucesso são grandes, já que quase todos os países querem claramente chegar a um acordo e ninguém quer ser visto como vilão do clima.

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Créditos: Segs.

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