O desafio do setor supermercadista


     R$ 7,1 bilhões. Esse é o absurdo montante que os supermercados brasileiros perdem por ano com alimentos que deixam de vender aos clientes, seja por danos, aparência ou validade. Chamado de ‘quebra operacional’, o desperdício representa quase 2% do faturamento do setor, R$ 338,7 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras). 
     Esse assunto entrou definitivamente na pauta dos gestores do setor supermercadista. E não é por menos: o desperdício de alimentos é, atualmente, o principal fator de perdas, representando 28,6% do total, superando furtos internos e externos, erros de inventário e administrativo e a devolução de produtos ao fornecedor.
     A redução dos desperdícios de alimentos vem ganhando força nos últimos anos a partir da sua verdadeira dimensão transversal e global, uma vez que está diretamente ligada às questões ambientais, segurança alimentar e nutricional”, afirma Mario Milan, superintendente da Abras.
     O executivo da Abras adiciona que as perdas por falhas em sistemas de refrigeração podem chegar a R$ 200 milhões. “Uma das alternativas para a redução dos desperdícios sem dúvida alguma é a automação dos sistemas de refrigeração para conservação dos alimentos.
      Na opinião de Pedro Celso Gonçalves, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o controle das falhas não é só possível como necessário na operação das lojas, independentemente do seu tamanho. “Com a automação, os controles de temperatura são mais fáceis de mensurar e de manter no nível ideal para cada produto. Por conta disso, a preservação dos alimentos tem maior controle e menor chance de erros, que geram parte das perdas.

Gargalos para adoção em larga escala das tecnologias  
     Se está claro que a automação dos sistemas de refrigeração contribui diretamente para a redução do desperdício, o que falta para que a tecnologia seja adotada em larga escala?
      Aroldo Lima, gerente geral de manutenção, obras e utilidades do Grupo Zaffari: “O que ainda falta são profissionais tradutores do conhecimento técnico responsáveis ocupando posições estratégicas nas organizações, com o desejo de assumir riscos e influenciar quem toma decisão dentro da sua organização. E responsabilidade envolve a implantação do projeto, medição dos resultados obtidos, evidenciando qual foi a geração de valor disso para empresa. Esses resultados são o que propiciam um ambiente para o círculo da prosperidade e credibilidade no pleito de novos projetos”.
      Opinião parecida tem o gerente de vendas & marketing da Plotter-Racks Alexandre Cavagnoli: “Hoje, um grande número de proprietários e gestores desconhece as vantagens e funcionalidades que um sistema de automação nos equipamentos de refrigeração pode oferecer. Existem também casos nos quais o supermercadista decide pela automação de todos os equipamentos, porém, a falta de infraestrutura de TI e de profissionais aptos a analisar as informações que um sistema de automação oferece fazem com que um investimento num sistema de automação, que poderia agregar valor ao longo do tempo reduzindo custos com manutenção corretiva e serviços emergenciais, passe despercebido ou num próximo projeto seja cortado”.
     O gerente de engenharia da Eletrofrio, Rogério Marson Rodrigues, adiciona outro ponto de vista: “Quase a totalidade dos sistemas de refrigeração novos montados no Brasil possuem algum tipo de controlador eletrônico, pelo menos com o básico para controle de temperatura e degelo de expositores e câmaras, e controle da operação de compressores e condensadores. O desafio para os próximos anos está no convencimento junto aos supermercadistas da necessidade de integrar estes controles e dados em um único sistema de gerenciamento eletrônico, para que este possa comandar o sistema de refrigeração como um todo, não partes separadas”. 
     Outros gargalos foram mencionados pelos especialistas ouvidos pela Solutions, como as condições atuais do parque instalado, o que desencoraja o proprietário em fazer o investimento mesmo com o retorno garantido, o acesso a informações sobre programas de automatizações e a falta de políticas de financiamento.

Caminho sem volta
      Estima-se que em torno de 12% dos produtos necessitam de refrigeração em uma operação supermercadista. Isto é um percentual que está longe de ser ignorado, o que faz chegar-se à conclusão de que, embora existam os desafios para a implantação de sistemas automatizados, esse é um caminho sem volta.
      Segundo Aroldo Lima, do Grupo Zaffari, atualmente empresas de vários setores e os próprios fabricantes de equipamentos e componentes de refrigeração se movimentam na exploração da automatização e monitoramento como um diferencial competitivo.  “Vários fatores têm contribuído, como o aumento do custo da energia no Brasil, o aumento do rigor dos órgãos fiscalizadores, o aumento da consciência do consumidor e o problemas relacionados à mobilidade urbana, principalmente em grandes centros. Se pensarmos o que está acontecendo agora com o avanço do uso das automações e monitoramento em refrigeração supermercadista é semelhante ao que aconteceu com Tecnologia da Informação alguns anos atrás, respeitando as devidas proporções. Acredito que agora vai e não tem volta.”
      Paulo Neulaender, vice-presidente de Meio Ambiente da Abrava, entende que esse movimento está em evolução. “Acredito que cada vez mais o setor supermercadista está vendo que a automação não tem mais volta. É necessária para a melhoria contínua de todas as alterações que precisam ser feitas no setor de refrigeração. Vejo o setor preocupado em melhorar o sistema de refrigeração como um todo e trabalhando com várias frentes - automação, novos fluidos refrigerantes, fechamento de ilhas, controle de vazamentos, treinamento da equipe, válvulas eletrônicas. Ou seja, é uma cesta de modificações visando economia energética e qualidade de todos os sistemas.”

Tendências
     O cenário para 2018 é de otimismo entre a maior parte dos empresários do setor. De acordo com projeção da Abras, o crescimento de vendas reais deve chegar a 3% neste ano, ante os 1,25% registrados no ano anterior. De acordo com o presidente da entidade, João Sanzovo Neto, embora a realização de eleições traga incerteza para o ambiente de negócios, o fato positivo é que a economia tem se descolado da política, o que faz com que a confiança dos consumidores e empresários esteja retomando. 
     Para suportar o crescimento que o mercado espera, seja no curto e no médio prazos, é necessário que as redes supermercadistas invistam cada vez mais em soluções que as ajudem a reduzir as perdas e tornar-se mais competitivas. O gerente de engenharia da Eletrofrio, Rogério Marson, indica que ao longo de 2017 notou que algumas redes começaram a manifestar a intenção da utilização das tecnologias aplicadas ao conceito da Indústria 4.0 no monitoramento, supervisão e controle do sistema de refrigeração. “Essa é a nova frente que se abre para o futuro próximo. Este conceito de trabalho tem por base a coleta e o armazenamento de dados para análise do comportamento e tendências. Por meio de parâmetros pré-estabelecidos, uma inteligência artificial desenvolvida para este fim passa a comandar os equipamentos e tomar decisões sobre as ações de operação e manutenção”, descreve.
      Neste sentido, Marson complementa: “Um sistema de automação que permita um gerenciamento remoto e envio de alarmes pode antecipar a ocorrência de um problema ou informar imediatamente um fato ocorrido, permitindo que a correção seja executada antes de levar as consequências para os produtos alimentícios”.
      Cavagnoli,da Plotter-Racks, faz coro à tendência de monitoramento remoto: “Vejo como uma tendência já em evolução a  possibilidade de monitorar e facilitar o acesso remoto dos equipamentos, permitindo correções e ações corretivas nos equipamentos antes mesmo de alguma falha ser detectada pelo pessoal de operação local da instalação ou desta mesma falha afetar a temperatura de armazenagem. Uma correta programação combinada com o monitoramento remoto permite auxiliar e mapear as falhas mais frequentes, evitando a reincidência e reduzindo custos com serviço”.
      Thiago Pietrobon, diretor da Ecosuporte Assessoria Ambiental, complementa com um fator pertinente a despeito da discussão do quanto a automação é importante para evitar desperdícios e perdas no setor. “Não podemos nos esquecer do ganho significante em eficiência energética que a automação traz ao varejista, portanto, um sistema automatizado é muito mais eficiente e preciso.
      De maneira geral, o supermercadista brasileiro ainda não conhece todo potencial que as tecnologias de automação podem agregar à operação de uma loja. Cabe à indústria, projetistas e instaladores propagarem o retorno que estes investimentos podem trazer em médio e em longo prazos.


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Até a próxima!


Créditos: Danfoss | www.danfoss.com.br

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